Dança, menino guerreiro
Êparrei, meu pai!
Pois na roda da História
Seu nome pro quiombo vai
Assim Zumbi me falou
No gira-gira da roda
O mundo gira-girou
Anda menino matreiro
Revoluciona a vida
Nas terras de veias abertas
Tente fechar as feridas
Assim Ernesto me falou
No gira-gira da roda
O mundo gira-girou
Grita, companheira do campo
Dê voz, vez e lugar
Às mãos desde sempre calejadas
À vida, ao não-abortar
Assim Maria me falou
No gira-gira da roda
O mundo gira-girou
Acordes, Senhor Violão
Harmoniza a dor das correntes
Quando a visão clarear
Aquece o coração dessa gente
Assim Geraldo me falou
No gira-gira da roda
O mundo gira-girou
Vamos juventude do mundo
Não abandone os remos
Para um novo sol raiar
Lutemos, perseveremos
Assim Emanuel me falou
No gira-gira da roda
O mundo gira-girou
Raimundo
2000
O Bom Escravo
Todos os dias, José acorda às 6h da manhã.
Toma seu banho, enquanto sua esposa prepara o café.
Que ele engole com pressa, e vai pro trabalho.
No caminho para o escritório enfrenta o ônibus lotado.
O empurra–empurra no metrô, pisões nos calos dos pés.
Atrasos... Às 9h no trabalho.
No escritório passa o dia olhando para o computador.
Fica o dia todo com o olho na máquina.
Respirando o pó do ar condicionado.
Se faz sol, se chove, não importa.
As janelas estão fechadas, cerradas.
O mundo lá fora está distante.
Os filhos crescem na escola.
Na volta para casa, o castigo é pior.
Empurra - empurra.
Metrô lotado. Sapato apertado. Transito parado.
Chega às 20h. Come, Assiste, Dorme.
Levanta. Café. Metrô lotado. Trabalho. Metrô lotado.
Come. Assiste. Dorme.
Come. Assiste. Dorme.
Come. Assiste. Dorme.
ACORDA, JOSÉ!
(Mila - 2008)
Ontem, na TV, eu vi um bicho
Era apenas um cavalo
Um quadrúpede estúpido
Atrapalhando o tráfego
Apenas um animal irracional
Racionando pensamento
Ruminando discernimento
Conversando sossegado
Sapateando sem sandice
Nos sobrou seu rodopio, seu grito e pontos no ibope de sua dor.
Raimundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário